sexta-feira, 19 de novembro de 2010

ENTREVISTA EXCLUSIVA!

"O diretor da CIA CÊNICA Alex Capelossa responde algumas curiosidades sobre CRUSOÉ – um espetáculo sem palavras à jornalista Natália Diogo"


Natália Diogo - Este projeto é denominado “um espetáculo sem palavras”, explique de onde surgiu essa idéia?

Alex Capelossa - Quando comecei a pesquisar as ações físicas, fiquei intrigado com a possibilidade de um espetáculo expressar uma dramaturgia somente com as ações, e, inspirado por este desafio profissional, me tornei obstinado a explorar todo o potencial deste método que se tornou a base do meu verdadeiro teatro.
Traçado os objetivos o primeiro desafio foi desenvolver a pesquisa tendo como base os mínimos detalhes das ações humanas, todo os gestos que são impulsionados pelos sentimentos e emoções.  Com a Cia Cênica pesquiso essa linguagem de variações infinitas, tornando o trabalho universal, aperfeiçoando o método a cada novo projeto.

Natália Diogo - No teatro, as palavras podem não interferir no sentido da história? É possível compreender a história por completo sem palavras?

Alex Capelossa - Sim, o teatro expressa suas intenções através das ações que são acompanhadas de um texto em determinada circunstancia. A possibilidade se dá, quando crio roteiros onde a circunstancia não permite o uso da palavra e sim o desenvolvimento através das ações. Como fazemos quando estamos em casa sozinhos, não falamos, mas agimos e se alguém nos visse de fora entenderia o que estamos fazendo.

Natália Diogo - Porque a Cia. Cênica optou pela inclusão social de pessoas com necessidades especiais? Comente melhor essa iniciativa?

Alex Capelossa - Quando considerei que o teatro sem palavras transpunha as barreiras da comunicação verbal, percebi que existia muito mais que a inclusão social em nosso trabalho. Vi que era possível oferecer aos surdos o direito de igualdade com uma arte que geralmente se dá através das palavras. Na maioria dos casos o teatro exclusivo ao público surdo requer ajustes que limitam o público ou a qualidade do espetáculo, e isso, não acontece nos espetáculos sem palavras da CIA CÊNICA, pois, as palavras estão embutidas nas ações, que como eu já disse é fruto de sentimentos e emoções que pertencem a todos nós, com ou sem a audição.

Natália Diogo - Conte um pouco mais dos projetos anteriores da Cia. Cênica. Todos eles seguiram esse mesmo preceito de inclusão social?

Alex Capelossa - As pesquisas sobre o teatro de ações começaram em “SHAMASH”, no qual o roteiro tratava das diferenças culturais; o segundo, foi “SOLIDÃO A DOIS”, cuja temática envolvia o amor e suas fases, este tema foi um dos propulsores aos ideais da CIA CÊNICA, foi durante a pesquisa de campo para desenvolver este espetáculo que percebemos a importância deste método para o público surdo; logo depois, veio “MENINA SOLDADO”, que traz um protesto cênico diante da violência e das guerras, este projeto consolidou o nosso objetivo principal, que era aprofundar o método do teatro sem palavras e ainda explorar mais detalhes para tornar visível a possibilidade de integração do público surdo; agora, com “CRUSOÉ” que fala da superação do homem diante da solidão e o respeito à natureza, nós valorizamos este conceito de igualdade, estabelecemos nosso objetivo e trabalhamos tanto no roteiro quanto no desenvolvimento da ação dramática buscando a perfeição da ação gestual em harmonia com a inclusão social, estamos muito orgulhosos com o resultado de “CRUSOÉ” seguiremos confiante e feroz nesta causa.